9 de julho de 2011

No trilho da Pandora

Há uns dias dei pela falta da minha [muito despida] Pandora... Vasculhei meia dúzia de sítios muito prováveis e dois ou três verdadeiramente inconcebíveis... Verdade que não me dei ao trabalho de me dedicar afincadamente a essa tarefa. Verdade que já me conheço suficientemente bem para saber que só vale a pena investir no que realmente quero quando quero. Assim foi: ontem deitei os olhinhos a um monte de trabalho por fazer e pensei "É agora que vou procurar a Pandora!"... Escusado será dizer que não demorei cinco minutos para a encontrar, embrulhada numa pilha de fotocópias e pastas por arquivar, algures entre a "História da Gata Borralheira", de Sophia de Mello Breyner e o "Aviso de Cobrança", do Condomínio!

E logo fui invadida por um pensamento...[Ok, vá, por dois, sendo que um não vem nada ao caso e logo que me disponha (leia-se "me apeteça") trato de proceder à transferência!] E dei por mim, mais uma vez, a convencer-me que eu sou capaz de tudo... basta querer! Lá está, é esta mania de "vestir camisola"* quando quero mesmo... Porque se for um "querer tímido", sei que é para querer pouco hoje e menos ainda amanhã... Agora se for um "querer querer", daqueles que nos roubam o sono à noite e não pedem permissão para se instalarem na almofada pela manhã, sei que é coisa para me arrancar do conforto da minha tranquilidade, virar a minha vida do avesso e rasgar-me um sorriso tolo no rosto... enquanto "brinco" com a Caixa de Pandora! ;)

*Até posso não levar o prémio para casa, mas, verdade seja dita, tenho bom perder...
e não costumo amuar!

30 de abril de 2011

A vida Real*

10 da manhã. Ao dobrar a esquina para entrar na sala de professores apercebo-me de um rumor estranho, um burburinho mais alto do que o normal, entro e são dezenas de olhos colados numa tela e não menos narizinhos encostados, do lado de fora, às janelas, a tentar vislumbrar algo que se encontra projectado em tamanho XL. Espreito. Ah! O casamento real!

Rio da situação. Penso que tudo isto não passa de um grande espectáculo, de algo que devia ser vivido a dois. E dou por mim a engrossar o amontoado de espectadores e a passar a próxima hora a comentar vestidos e chapéus [que havia para todos os gostos!] e a debater protocolo e etiqueta, enquanto aguardo a entrada triunfal da noiva! Bonitinha, vá, não estava deslumbrante, mas, dentro da simplicidade, convencia!

Não me parece estranho que todo este folclore cative. Afinal, a maioria de nós adormeceu a ler ou a ouvir histórias de princesas, contos de fadas e finais felizes... E provavelmente passou a noite a sonhar com beijos arrebatados no último instante, promessas eternas e... Triiim! O despertador! Voávamos para a escola e, antes mesmo de soar a campainha, já tínhamos enfiado o bilhetinho na mochila do Renato* (ou Rodrigo, ou Raul...) para mais tarde descobrirmos que afinal o Renato andava de olho na Patrícia, que era a namorada do seu melhor amigo, o Rodrigo, e que, uns minutos antes, no autocarro, havia lançado um olhar indiscreto ao Raul, namorado da sua prima...

* Is it Royal life for real?!

26 de março de 2011

Alma Lusitana

Porque ser professor tem muito que se lhe diga e ter alunos muito especiais implica mil e um malabarismos para se conseguir chegar até eles, tenho andado às voltas para levar Os Lusíadas aos meus queridos CEF's... Tarefa árdua, eu sei! Qual Júlio Verne, na Volta ao Mundo em 80 [mil] páginas da Net, eis que me deparo com esta pérola:
«Numa manhã, a professora pergunta ao aluno:
- Diz-me lá quem escreveu 'Os Lusíadas'?
O aluno, a gaguejar, responde:
- Não sei, Sra. Professora, mas eu não fui.
E começa a chorar. A professora, furiosa, diz-lhe:
- Pois então, de tarde, quero falar com o teu pai.
Em conversa com o pai, a professora faz-lhe queixa:
- Não percebo o seu filho. Perguntei-lhe quem escreveu 'Os Lusíadas' e ele respondeu-me que não sabia, que não foi ele...
Diz o pai:
- Bem, ele não costuma ser mentiroso, se diz que não foi ele, é porque não foi. Já se fosse o irmão...
Irritada com tanta ignorância, a professora resolve ir para casa e, na passagem pelo posto local da G.N.R., diz-lhe o comandante:
- Parece que o dia não lhe correu muito bem...
- Pois não, imagine que perguntei a um aluno quem escreveu 'Os Lusíadas', respondeu-me que não sabia, que não foi ele, e começou a chorar.
O comandante do posto:
- Não se preocupe. Chamamos cá o miúdo, damos-lhe um 'aperto', vai ver que ele confessa tudo!
Com os cabelos em pé, a professora chega a casa e encontra o marido sentado no sofá, a ler o jornal. Pergunta-lhe este:
- Então, o dia correu bem?
- Ora, deixa-me cá ver. Hoje perguntei a um aluno quem escreveu 'Os Lusíadas'. Começou a gaguejar, que não sabia, que não tinha sido ele, e pôs-se a chorar. O pai diz-me que ele não costuma ser mentiroso. O comandante da G.N.R. quer chamá-lo e obrigá-lo a confessar. Que hei-de fazer a isto?
O marido, confortando-a:
- Olha, esquece. Janta, dorme e amanhã tudo se resolve. Vais ver que se calhar foste tu e já não te lembras...! »

E não é que não consigo parar de rir, cada vez que releio este texto?! ;) O problema é que a realidade não anda muito longe disto, não!

* Ó Luisinho, e pensar que arriscaste a tua vidinha para salvar o manuscrito original!

28 de janeiro de 2011

"Time you enjoy wasting was not wasted"

"Fizeram-nos acreditar que amor mesmo, amor de verdade, só acontece uma vez, geralmente antes dos 30 anos. Não nos contaram que amor não é accionado, nem chega com hora marcada. Fizeram-nos acreditar que cada um de nós é a metade de uma laranja, e que a vida só ganha sentido quando encontramos a outra metade. Não contaram que já nascemos inteiros, que ninguém na nossa vida merece carregar nas costas a responsabilidade de completar o que nos falta: nós crescemos através de nós mesmos. Se estivermos em boa companhia, é só mais agradável. Fizeram-nos acreditar numa fórmula chamada "dois em um": duas pessoas que pensam igual, agem igual, que era isso que funcionava. Não nos contaram que isso tem nome: anulação. Que só sendo indivíduos com personalidade própria é que poderemos ter uma relação saudável. Fizeram-nos acreditar que casamento é obrigatório e que desejos fora de hora devem ser reprimidos. Fizeram-nos acreditar que os bonitos e magros são mais amados, que os que namoram pouco são confiáveis, e que sempre haverá um chinelo velho para um pé torto. Só não disseram que existe muito mais cabeças tortas do que pés tortos. Fizeram-nos acreditar que só há uma fórmula de ser feliz, a mesma para todos, e os que escapam dela estão condenados à marginalidade. Não nos contaram que estas fórmulas dão errado, frustram as pessoas, são alienantes, e que podemos tentar outras alternativas. Ah, também não contaram que ninguém nos vai contar isso tudo. Cada um vai ter que descobrir sozinho. E aí, quando estiveres muito apaixonado por ti mesmo, vais poder ser muito feliz e apaixonares-te por alguém.''

 [John Lennon]

22 de janeiro de 2011

Marujos de Banheira

Ando com vontade de pegar num bloco de post-it's, de cor bem ofuscante, e sair a colar papelinhos testas fora!

              * "Ora, com licença: Mija-Pocinhas!..." [aqui]
              * "Sem qualquer dúvida: Nim!" [aqui]
              * "De olhos fechados: Encarquilhamento bifurcado!" [aqui]

Tenho a impressão que havia meia dúzia de formas disponíveis, mas que, num assalto à mão armada, levaram a forma O Tal e nunca mais foi resgatada... "Não é grave!", terá pensado o mestre de obras, temos sempre a forma mais requisitada O Príncipe Perfeito. E todos aplaudiram com entusiasmo. Foi reforçada a segurança, redobrados os cuidados de todas as vezes que a forma era usada... Mas era uma forma muito solicitada... Um dia, furou! Não se sabe a data exacta, mas palpita-me que terá rondado o ano de 1976... Desde então, as fornadas eram mais do mesmo... Num dia de inspiração, já cansado de "Sai duas de Mija-Pocinhas!", "Mais três de Nim!", "Mais uma fornada generosa de Encarquilhamento Bifurcado!", o mestre de obras devidiu inovar e, com toda a força, investiu uma grande amolgadela numa das formas! À primeira vista, o resultado era promissor! E o mestre, feliz da vida, fez seguir fornada atrás de fornada... Surgiram então os Marujos de Banheira!



«Pelo que vejo
És um marujo da banheira
E antevejo
Um bárbaro e vil desfecho
Mal te abram a torneira
Já se vislumbra uma desgraça
No teu desejo
De ter a maior traineira
Talvez te tapes
E uma onda ainda te mande
Contra o esmalte da banheira
Ou contra um pato de borracha

(...)
Faz-te falta um faroleiro
Que te afaste a luz dos olhos
Que te aponte para os molhes
Que há tanta ilusão na vida
Por te ouvir tantas cantigas
Já deixei de acreditar

Tu vai lá contra os patinhos
Que eu remo este alguidar.»

Haja paciência!!
E uma boa dose de humor para levar o barco a bom porto... Porque que os há, há! [Ou não?] ;)

* Quem quiser rever estes conceitos, faça o favor de clicar! ;)